segunda-feira, 2 de maio de 2011

A morte não é nada para nós

Quando o nosso corpo fica doente uma das primeiras medidas que tomamos é procurar um médico ou providenciar um remédio para que o mal seja extirpado. O prazer, a tranquilidade da alma e a ausência de perturbação são desejos que queremos ver realizados.
Essa paz espiritual e a experiência de viver sem dor e sofrimento já se encontra entre os gregos, em especial na filosofia de Epicuro(342-217 a. C.). Segundo ele, o ponto de partida de um modo de vida prazeroso está em não sentir fome, nem sede e nem frio. A felicidade de cada indivíduo encontra-se num exercício permanente em que buscamos não os prazeres momentâneos, doces e efêmeros. É por procurar unicamente esses prazeres que os homens encontram a insatisfação e a dor, porquanto esses prazeres são insaciáveis e, tendo chegado a certo grau de intensidade, tornam a trazer sofrimentos.
A felicidade suficiente, perfeita e plena e o prazer estável são escolhas que nós podemos fazer, ao invés de sermos torturados por desejos vazios: a riqueza, a luxúria, a dominação. Assim, devemos optar pelos desejos naturais e necessários, que são aqueles que levam à satisfação de nos libertarmo de uma dor e que correspondem às necessidades elementares, às exigências vitais. Diz Epicuro: “Graças sejam rendidas à bem-aventurada Natureza que fez com que as coisas necessárias sejam fáceis de alcançar e que as coisas difíceis de alcançar não sejam necessárias”.
Para aprofundar e melhor esclarecer sua posição, Epicuro formula o que ele chama de “quádruplo remédio”: 1. Os deuses não são feitos para temer; 2. A morte não é feita para amedrontrar; 3. O bem não é fácil de conquistar e 4. Nem o mal de suportar.
De fato, quem quiser viver bem não deveria se pré-ocupar com a morte. Seria perturbador a nós se ficarmos organizando a nossa vida a partir do fim dela, pois enquanto cada um de nós existir a morte não existe e quando ela existir nós já não existimos mais. Enfim, a morte não é nada para nós, ou seja, nós nos bastamos as nós mesmos e quando a morte sobrevir nós não somos mais nós mesmos.
Deste modo, sumprimindo a morte de nossas preocupações, devemos nos ocupar com a vida. A satisfação de nossos desejos vem, portanto, pela prática da disciplina que nos leva saber contentar-se com o que é fácil de alcançar, com o que satisfaz as necessidades fundamentais do ser, e renunciar ao que é supérfluo. Fórmula simples, mas que não deixa de levar a uma alteração radical da vida: contentar-se com comidas simples, roupas simples, renunciar às riquezas, às honras, enfim, viver retirado.
É verdade que essa vida filosófica parece impossível nos dias atuais, mas podemos a partir dela olhar e observar que sentido estamos dando às nossas existências hoje. Será que vale o sacríficio amendrontarmo-nos com a morte, tornando-nos escravos de desejos insaciáveis que nos leva ao sofrimento e à dor? A pensar!

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